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A Nova Academia

 

"A era de ouro da educação em negócios durou dos anos 1950 até 2000, quando era praticamente necessário ter um MBA se você quisesse acelerar sua carreira", sentenciou o atual reitor da Harvard Business School, Nitin Nohria, há um ano, em entrevista ao periódico americano The Wall Street Journal. Em uma frase, Nitin definiu o momento da educação executiva no mundo todo. O ensino para profissionais mudou, e as instituições que não acompanharem o ritmo da mudança estão fadadas a fechar suas portas.

O grande desafio dos cursos de MBA hoje é como ainda agregar valor para a carreira num mundo em que o acesso à informação está disponível para todos. "Você não precisa mais fazer um MBA para ter conteúdo", diz Luiz Artur Lddur Brito, diretor da Eaesp, da Fundação Getulio Vargas. "Em vez de disciplina, a escola deve oferecer experiência; em vez de conteúdo, aplicação. O aluno é o centro, e não mais o professor."

Essa talvez seja a primeira grande transformação vivida pelas instituições. De figura passiva, que vai até a sala de aula para absorver o conteúdo dos mestres, o aluno se tornou o protagonista dos cursos. Ele está lá para compartilhar, e não para ouvir. "As escolas precisam entender que o indivíduo não é mais um receptáculo vazio. Ele já traz conhecimento, e nós precisamos aproveitar isso", afirma Silvio Laban, coordenador acadêmico do MBA Insper. Na outra ponta, o professor passou a ter um novo papel: o de mediador das discussões. "Se o conteúdo já está disponível gratuito para todos, isos já perdeu o valor", diz Vicente Ferreira, diretor-geral do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "O que interessa agora é a forma como se trabalha esse conteúdo, e eu preciso ter alguém em sala de aula com experiência para conduzir as discussões, e não mais para explicar."

Isso resulta numa mudança também no corpo docente. O bom professor não é mais aquele que tem oito folhas no currículo e passagem pelas melhores instituições de ensino do mundo. A bagagem acadêmica pesa, mas é fundamental ter experiência de negócio - e isso vai muito além de teorias de administração. Para Aldemir Drummond, da Fundação Dom Cabral, a enorme disponibilidade de conteúdo obriga o professor a ser antes de tudo um curador das informações, aquele que vai escolher o que é de fato relevante para seu público. "A oferta de conteúdo trouxe também uma mudança negativa: a superficialidade e arrogância do aluno, que acha que, por ter acesso à informação, já conhece tudo", diz Aldemir. "O professor precisa filtrar essas informações e mostrar ao aluno que ter aceso não significa conhecimento."

Se antes os livros ditavam as ordem das aulas, hoje o mercado é quem comanda as discussões, fazendo com que os cursos se tornem mais práticos e menos teóricos. Os alunos cobram a aplicabilidade imediata das disciplinas na sua rotina, e os cursos precisam responer à altura. Não à toa, as melhores escolas têm transformado a sala de aula em um verdadeiro laboratório de casas. No Insper, por exemplo, a ideia é que a teoria fique para fora da escola e que o aluno traga para a aula a parte prática. "Para cada hora dentro da sala, pedidmos uma a duas horas fora de preparação", diz Silvio "Aqui a gente vai trabalhar a parte prática, com uso exaustivo de cases, filmes e simulações."

Além disso, espera-se que uma boa escola de ngócios aborde outras questões comtemporâneas importantes, como a ética nas organizações e a diversidade, temas essenciais para a formação do executivo atual. "Afinal, estamos formando ou treinando executivos?", indaga Luiz Artur, da Eaesp. "Os conteúdos não devem se limitar aos instrumentais de negócios, mas debater questões da sociedade, especialmente numa década como esta, marcada por escândalos de corrupção e ética", completa.

Impacto na carreira

Não resta dúvida de que o mercado - bem como a nova geração de alunos - está provocando mudanças na educação executiva. Saem as velhas teorias e entram mais exemplos práticos. Saem os dinossauros que detêm conhecimento mas não experiência e entram os professores mais voltados à dinâmica dos negócios. Mas tudo isso traz efeito prático para a carreira do profissional? Ainda é possível encarar um MBA como um diferencial, algo que vai ajudar o aluno a galgar posições e aumento de salário. "Hoje, o MBA é visto pelo mercado como a graduação há 30 anos", diz Heitor Mello Peixoto, diretor de recrutamento da Stato, empresa de recrutamento e transição de carreira em São Paulo. "Ter não é algo que destaque seu currículo, mas não ter é um problema." Segundo os recrutadores, a parte acadêmica faz mais diferença quanto mais jovem for o candidato. "Dependendo do nível, o certificado abre portas", diz Magui Castro, da Cadwell Partners, empresa de recrutamento executivo, em São Paulo. "Especialmente se for uma média gerência, pois nessa fase você é mais braço e menos estratégia, e o curso pode dar algo a mais." Quando você já é líder, porém, são outras as competências que irão chamar a atenção. "Nessa fase, não adianta ter um MBA na escola mais conceituada do mundo se não tiver inteligência emocional", completa Magui.

Isso explica por que a faixa etária dos cursos diminuiu. Hoje, o MBA é um meio para se desenvolver, e não mais um fim. E é dessa forma que o aluno deve encará-lo. "Há 15 anos, o estudante encerrava sua formação no MBA", diz Vicente, do Coppead. "Hoje, o MBA é o meio da sua educação executiva. Passada essa fase, ele deve continuar se aprimorando." Como o próprio conceito de carreira mudou nos últimos 15 anos, não dá para acreditar que o MBA é um passaporte para a promoção, como já foi. Você deve estudar para o seu desenvolvimento, para as trocas em sala de aula e para transformar o conteúdo fácil (e muitas vezes raso) em conhecimento e aplicá-lo na sua vida. Não só na sua empresa. "Há os que buscam o MBA como uma fórmula mágica para subir na carreira", diz Tania Casado, da Fundação Instituto de Administração (FIA). "Não é assim. O programa deve prover também crescimento pessoal." Entender isso se chama maturidade - e vai fazer realmente diferença para a sua carreira.

Fonte: Revista Você S/A - Fevereiro 2016

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